A escola como espaço de resistência

 

Prólogo

Na oportunidade dessas postagens, por vezes alternadamente à abordagem de tópicos voltados com maior ênfase ao Ensino (área a que endereçaremos o tratamento de teorias e metodologias de ensino-aprendizagem), volvendo-nos a atenção à temática da Gestão de alunos teceremos comentários sobre passagens específicas do livro (In)Disciplina, de Celso dos S. Vasconcellos (2016).

Enquanto o conteúdo das considerações não se preocupará com justificativas para além de aspectos extraídos da opinião daquele que vos escreve tecidos segundo uma lógica e sensatez minimamente aceitáveis, a forma transluzirá uma tentativa de compreensão do ponto de vista do autor do livro mesclada com a perspectiva do autor desse blog, ora distanciando ora afastando-me como é natural em qualquer diálogo entre duas pessoas.


A escola como espaço de resistência


Se o professor pensa em simplesmente conseguir o silêncio de seus alunos para poder falar, está tendo uma visão muito estreita.(p.46-47)


A asseveração em causa pertence a um contexto em que o autor enxerga uma luta de classes em alguma medida sorrateira na sociedade, travada em grande assimetria entre a classe que detém os meios de produção, a burguesia, momentaneamente mais forte, embora menos numerosa, e o grupo que nada tem senão a força de trabalho, historicamente mais frágil face aos abusos efetuados pelos poderosos.

Celso dos Vasconcellos afirma que a escola, conquanto determinada socialmente - donde se conclui não estar ilesa, ela mesma, à ingerência do poder que se espraia em todos as frentes das relações humanas – possui uma autonomia relativa, a despeito de tudo o que lhe ocorre ao derredor.

Quanto à tão propalada luta de classes, não quero aqui fazer juízo de valor se ela de fato é digna de consideração entre os muitos problemas que afligem a sociedade, ou se se trata de um evento existente apenas no imaginário dos aficionados pelas elucubrações de Karl Marx. Ninguém pode negar que os interesses das classes operária e empreendedora são com bastante frequência conflitantes; mas, sejamos sensatos, isso nem sempre ocorre! Ademais, ao contrário do que pensam todos quantos se aferram a esse embate, o mesmo, ainda que existindo em determinadas circunstâncias, não pode ser encarado como uma batalha do bem contra o mal. Enfim, não prolongarei essa discussão aqui.

Prosseguindo, o autor, entendendo a escola como espaço propício para o início de uma transformação social, dada a relativa autonomia que possui para trabalhar temas que estejam na contramão do interesse dos poderosos, se queixa da visão simplista de disciplina assumida por – ele dá a entender – grande parte dos professores da escola pública, segundo a qual a principal finalidade com ela é obter o silêncio dos alunos para que os regentes encontrem o desejado espaço de fala.

Uma das razões pelas quais a disciplina, encarada nesses termos, mostra-se infrutífera como propulsora de transformação social, é ela perder seus efeitos tão logo o professor se ausente da presença dos alunos – vez ter sido imposta à força, por pressão, em desfavor da vontade dos discentes.

Uma concepção de disciplina que visa à manutenção do espaço de fala, assim como a ordem pela ordem, não se enquadra em qualquer projeto que preze o bem estar do educando no futuro, individualmente, e coletivamente a superação das profundas desigualdades que corroem a sociedade a que pertencemos, mas se serve tão somente à autoconservação do professor como funcionário assalariado, e da escola, como ambiente seguro e pacífico para os servidores. Devemos, é claro, buscar que esses efeitos tenham lugar no ambiente escolar mais amplo e nas de salas de aula, porém não podemos enxergá-los como o fim último do ofício dos profissionais da educação, mas entendê-los como fonte adicional de motivação para ir além.



Vasconcellos, Celso dos Santos. (In)Disciplina: construção da disciplina consciente e interativa em sala de aula e na escola, 20ª ed. São Paulo: Libertad Editora, 2016. – (Cadernos Pedagógicos do Libertad; v. 4)

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