As tormentas e os marinheiros

 

Há quem diga que exista certa relação entre inibição adulta e reprovação excessiva do comportamento quando mais jovem. De fato, se um indivíduo, em sua infância, padece de sucessivos cerceamentos e reprovações, enquanto adulto, a fim de evitar passar por semelhantes desgostos, se retrai, diminuindo a amplitude de suas ações.

            Algo similar ocorre algumas vezes no interior de uma sala de aula: Professores que desde o início de sua atuação profissional tiveram de lidar com turmas em demasiado agitadas e apinhada de alunos insolentes, e não se saíram bem, tendem a manter um comportamento amedrontado, inerte, passivo e lisonjeiro para com os estudantes, ainda que se situe em ambientes sobremaneira mais plácidos.

            A tese que desejo aqui defender, ainda que com recurso a poucas palavras, é que não faz sentido que seja assim; as adversidades não deveriam nos enfraquecer, mas produzir efeitos absolutamente contrários. De fato, o manuseio da enxada para a capina, por quem dela seja estranho, lhe produzirá bolhas e feridas na mão. Porém a exposição reiterada a esse tipo de agressão fará com que a pele torne-se progressivamente mais grossa, de forma que onde antes havia dor, agora ela não existe mais, pois os terminais nervosos vão naturalmente perdendo a sensibilidade; onde havia feridas, calos e protuberâncias do couro gradativamente assaltam-lhe o lugar. Assim como sucede nesse caso, as feridas da alma, senão por natureza, ao menos impositivamente, deverão, com o correr do tempo e a exposição a estímulos externos, se cicatrizar e engrossar até ficarmos definitivamente cauterizados do que outrora nos agredia.

            Não intento, neste texto, apontar para os instrumentos eficazes no processo de cauterização, mas exortá-lo a manter-se de pé e prosseguir avante. Encontre uma forma de tornar o seu medo em coragem; de transformar a sua inibição em ação. Vencido esse obstáculo, terá um livre caminho a percorrer! (Até se deparar com outro impedimento, como é da natureza das coisas! Rs)

 

Da mesma forma que bons marinheiros são forjados durante as tormentas, o bom administrador não terá suas qualidades realçadas em tempos de calmaria.

 

O Regente: 22 Lições de Maquiavel ao Professor. Editora Penalux, 2021 

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