O Ocaso da Autoridade

 Parte 2

          

Temos uma inclinação natural para a rebeldia? Sim. A submissão aos desígnios de outrem é sempre bem aceita por qualquer um de nós? Não. Já tratei da temática da decadência da autoridade, enquanto conceito, em outro post; neste, darei prosseguimento à discussão. Assim como o fiz naquele, tomarei como pano de fundo o contexto escolar; por óbvio isso não acarreta qualquer perda de generalidade, dado que estamos a focalizar um conceito que, enquanto tal, é sobranceiro a toda forma de especialização.

            Torna-se notório, quando analisamos o antes e o depois, que em um passado não muito distante havia inegável deferência de pais e alunos para com a instituição escolar e seus servidores, em claro contraste com hoje. A situação se afigura preocupante quando percebemos que essa degradação de tratamento não pode ser compreendida como uma mera, embora lamentável, situação circunstancial passageira. Com efeito, procedendo a sucessivas comparações entre períodos históricos no tempo chegaremos à fatídica conclusão de que no passado os instrutores gozavam de maior estima e respeito do que em qualquer período mais próximo da atualidade.

            Sabemos, pelas Sagradas Escrituras, que, enquanto inimigos de Deus, somos propensos a toda forma de insubordinação e subversão aos nossos superiores, vez que estes representam justamente a figura do Criador. Por essa razão, um pai ou uma mãe, ao perceber que seu filho recebeu uma punição na escola, naturalmente não receberá essa notícia com a calma de quem reconhece que justiça foi feita. A tendência é que as entranhas se comovam como sinal de contrariedade ao prejuízo causado ao filho. Esse sentimento é, por assim dizer, normal e esperado, pois não devemos nos olvidar das inclinações decaídas do ser humano. O que não pode ser aceito, todavia, é o fato de a pessoa permitir que ele cresça a ponto de preponderar sobre o juízo correto.

            Em conformidade com o que estamos discorrendo, existe uma aura crescente de endeusamento e idolatria do ser humano; um sentido de vida que se configura na busca da felicidade a todo custo, da satisfação pessoal plena. Quando isso passa a ser a diretriz de uma sociedade, o poder da autoridade deve progressivamente ser enfraquecido a fim de que seus limites não colidam com as ambições das pessoas, as quais são irrefreáveis. Nesse sentido os legisladores, em sua função de ouvir os anseios da sociedade civil, acolhem-nos para os materializar nas leis e regramentos. Os planos nacionais, estaduais e municipais de educação, as resoluções e demais orientações são apenas exemplos de onde desembocam o caráter narcísico e idólatra das pessoas.

            Sob o argumento de que devemos lutar contra todas as formas de discriminação e segregação, de que as crianças e os adolescentes devem ser protegidos contra todo tipo de ação que macule suas personalidades em formação, há orientações as mais diversas no seio escolar, desde promoção imerecida ao tolhimento de meios e mecanismos administrativos para se lidar com a indisciplina em sala de aula. O Sistema tira-nos a autoridade de agir como regentes, administradores e governantes na sala de aula; concede-nos, por esmola, as migalhas de uma ação secundária: Sermos mediadores entre os alunos e o conhecimento em potencial. O termo mediador é bonito e de fato adequado à postura que realmente devemos ter no que tange ao ensino; entretanto, gerir uma sala de aula não se resume a gerir a aprendizagem, envolve também gerir os alunos que a habitam.

            Essa sabotagem da autoridade não é sutil; ao contrário, ela é clara e manifesta aos alunos e aos pais. Com respeito a estes últimos, entendendo eles que somos profissionais inofensivos e acuados, sem nenhum instrumento institucional para aplicar as punições e impor a nossa - outrora soberana - vontade, desistem de controlar dentro de si aquela rejeição à penalização de seus filhos e a deixam extravasar durante as reuniões promovidas pela escola. Não bastasse isso, alguns se dignam o direito de se deslocar à escola em dias letivos para proferir vitupérios contra os professores enquanto estes estão diante de seus alunos.

            A humanidade caminha a passos largos rumo ao abismo. Quanto mais perto dele estamos, mais afoitamente dele nos aproximamos.

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