Os estilos de aprendizagem


    

 O trabalho de Felder e Silverman (2005) permite fundamentar em bases sólidas (científicas) aquilo de que já desconfiamos: as pessoas não apenas não aprendem no mesmo ritmo em razão de caprichos ou desleixos - algo lugar-comum na consciência de quem participa e propõe a prática pedagógica - mas possuem estilos de aprendizagem próprios.

    Resumidamente, o processo de aprendizagem passa necessariamente por 4 etapas, doravante denominadas dimensões, cada uma das quais composta por 2 polos:

  1. Percepção: o indivíduo é sensorial ou intuitivo;

  2. Entrada: o indivíduo é visual ou verbal;

  3. Processamento: o indivíduo é ativo ou reflexivo;

  4. Entendimento: o indivíduo é sequencial ou global

    O estilo de aprendizagem de uma pessoa é definido pela sequência de polos que caracterizam cada uma das quatro etapas. Dado que a cada uma destas há 2 possíveis polos, obteremos 16 (24) combinações representando os diferentes estilos de aprendizagem: sensorial/visual/ativo/global, intuitivo/visual/reflexivo/sequencial, etc.

    Por esta razão, no tocante à percepção de mundo, uns se apegam mais aos fatos, às experimentações, enquanto outros se comprazem em maior medida com ideias, conceitos e teorias; quanto à aquisição de informações, uns são mais visuais ao passo que outros, mais verbais; no que diz respeito ao processamento dos dados, há aqueles que imperiosamente necessitam de colocar a mão na massa, realizar experimentos, fazer as coisas, e outros, reflexivos, tendem a se contentar com a análise das ideias em si, sem se preocuparem com a relevância prática; finalmente, no que se refere ao entendimento, pode-se dividir as pessoas em um grupo que requer, para que ele se concretize, uma sequência ordenada de proposições, e outro no qual jazem aqueles que prescindem de qualquer estruturação lógica para o que encontram, importando, para estes, tão somente o fato de terem encontrado a solução.

    A título de exemplo, com respeito à percepção do mundo, julgo-me mais propenso a ser intuitivo a sensorial. De fato, tenho aversão a repetições, prefiro problemas que envolvam algum grau de inovação, considero-me impaciente com detalhes marginais e valorizo mais aspectos centrais.

    No tocante à preferência pela forma de aquisição de dados, embora considere agregador e relevante informações dispostas em forma que privilegia o visual, não consigo me ver refém deste viés. Em verdade, a via verbal, com especial atenção à acepção dos termos nela envolvidos e à elaboração de argumentações coerentes e eficazes, encontra maior acolhimento em minha aprendizagem.

    Com relação ao processamento de informações, tendo a ser mais reflexivo que ativo. Com efeito, ainda que pense que a experimentação se faz necessária para a validação de uma ideia, não a vejo como um fim, como o objetivo último, ao contrário do que acontece com a estruturação das ideias em si. Não são raras as vezes em que me percebo resistindo à tentação de dar importância às informações muito mais pela forma como estão entretecidas de modo a formarem um corpo coerente e coeso, que pela funcionalidade e aplicabilidade que apresentam. Jamais fui afeito às práticas em laboratório.

    Por fim, julgo ter a imperiosa necessidade de adquirir um entendimento que seja sequencial, em que conceitos mais simples são encadeados por outros mais complexos em um continuum progressivo. Paz jamais será alcançada em cenário distinto deste.

    Por tudo isso, meu estilo de aprendizagem, enquadrado pelo paradigma analisado, aproxima-se muito da sequência: intuitivo/verbal/reflexivo/sequencial.

    Uma prática pedagógica que procure ser exitosa necessita levar em conta todos os diferentes estilos de aprendizagem potencialmente presentes nos alunos que compõem a turma. De fato, uma das razões para a incompatibilidade entre professor e alunos repousa na distinção existente entre o estilos de aprendizagem do professor, quase sempre refletido em seu estilo de ensino, e os dos alunos. Saber que nem todo mundo aprende da mesma maneira, e trabalhar de modo que se alcance o maior número de estilos, são requisitos indispensáveis a um processo de ensino-aprendizagem realmente eficiente.

    Como exercício didático, desafio o leitor a identificar seu estilo de aprendizagem e postá-lo nos comentários. Isso seguramente o fará compreender melhor seu próprio jeito de aprender, e, se professor, desenvolverá maior empatia com seus alunos ao perceber que não há um único estilo de aprendizagem, mas vários.


Referência

FELDER, R. M.; SPURLIN, J.E. Applications, reliability, and validity of the index of learning styles. International Journal of Engineering Education, Whashington, v. 21, n. 1, p. 103-112, 2005.

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