O ocaso da autoridade


 Disponível em:<https://brainly.com.br/tarefa/725660>. Acessado em 20/11/2020

 

            Em um processo que se arrasta desde sempre, mas percebido com maior pujança nos últimos anos, a autoridade, enquanto prerrogativa de se fazer obedecer, de atuar e de exercer influência, vem sendo por todos os lados atacada, sobretudo nessa época pós-moderna. A importância de se lançar um olhar mais diligente sobre esse assunto é realçada pelas consequências da diminuição da reverência às hierarquias: Criminalidade nas ruas, dissensão no seio familiar, acintes os mais diversos contra as instituições públicas que sustentam o Estado de Direito e a indisciplina nas salas de aula são apenas alguns dos efeitos colaterais.

            Para uma análise mais detida, tomemos o caso da indisciplina no âmbito escolar. Comparativamente, há alguns anos atrás a escola, enquanto instituição pública destinada ao ensino das letras e das ciências, nutria de prestígio junto à sociedade. Esse respeito e a consideração aos olhos dos pais, alunos e ex-alunos se irradiava para com todos os profissionais que a faziam funcionar: desde professores, passando pelos responsáveis pelos procedimentos burocráticos nas secretarias, pela equipe da direção e chegando, sem nenhum grau de amortecimento, ao pessoal a quem cabiam o preparo da merenda e a limpeza do espaço escolar. Há quem diga que a degradação das relações entre a comunidade e a instituição resulte da diminuição da contribuição desta ao aluno: Ela não mais é tida como fundamental para a tão pretendida ascensão social. Diante de tais argumentos, indago: Por que isso seria verdade? Será mesmo que a escola, em tempos em que os serviços braçais vêm sendo ocupados cada vez mais por máquinas, vem assumido um papel progressivamente mais secundário e marginal? Não deveria, ela, opostamente a isso, se firmar ainda mais como instituição essencial?

            É lamentável que hoje em dia a diferença de tratamento recebido pela escola seja flagrante, mesmo quando tomamos por base de comparação anos passados não muito distantes. Seus funcionários são publicamente acusados de prevaricar por quem está fora dos muros; o mal comportamento dos alunos nas salas de aula vem atingindo níveis cada vez maiores, a ponto de já esperarmos pelo pior em mais ou menos tempo; se, de um lado, os adolescentes têm se mostrado incapazes de assimilar os conteúdos mais elementares de qualquer matéria, de outro são astutos o suficiente para se organizarem em motins e boicotes a professores tidos impopulares. 

                Vez ou outra, na descrição de eventos catastróficos por meio de sátiras e charges, excedemos o real valor das coisas para chamar a atenção a um ou outro aspecto; porém a tirinha divulgada em redes sociais mostrando os contrastes entre anos atrás e os atuais no tocante ao que acontecia quando um filho lograva notas baixas em seu boletim, embora exponha algo jocoso e curioso, não é capaz de atingir o que ocorre na realidade: Ao passo que naquelas épocas os pais averiguavam junto ao filhos as razões que o levaram a tirar notas tão abaixo do esperado, com infeliz frequência observamos mães ou pais agredindo verbalmente os professores devido às deficiências dos filhos. 

               Sem querer me delongar muito mais sobre um assunto sensível e profundo, a indisciplina escolar é reflexo de uma desobediência que tem lugar no seio familiar. Os pais também vêm passando pelo processo de corrosão da autoridade que lhes é cabida na criação dos filhos. As sucessivas mudanças dos tempos, com ideias sorrateiramente pregando o enfraquecimento das famílias, provenientes não apenas da mídia mas respaldadas pela institucionalização promovida pelos legisladores, vem incutindo nas crianças uma mentalidade rebelde, o que por si só contribui para discordâncias familiares. Ao encontro disso, temos os pais igualmente vítimas e cúmplices de tudo o que ocorre: vítimas porque pertencem ao sistema de mundo e com ele trava relacionamentos; e cúmplices em razão de agravarem seus ouvidos contra qualquer voz que proponha um caminho alternativo.

            Devemos de uma vez por todas entender que as autoridades, sejam elas quais forem, despóticas ou democráticas, são todas elas ordenadas por Deus, conforme afirma o apóstolo Paulo no capítulo 13 da Carta aos Romanos. Prosseguindo em suas admoestações, ele nos exorta a obedecê-las, posto que elas não farão mal a quem fizer o bem; no entanto, àqueles que teimosamente insistem em proceder levianamente, a estes adverte: a autoridade não traz a espada sem razão.

            Muitos deliberadamente torcem a mensagem bíblica para passar a falsa ideia de que, como cristãos, devemos enxergar a permissividade como a maior expressão do amor; mas omitem que o estilo de vida cristão pressupõe, para além do amor, o respeito ao outro, a obediência aos desígnios de Deus – e isso inclui a reverência às autoridades – e a admissão de que justiça sem falhas procede apenas do Pai.

            Alguém, contudo, poderá retorquir: Se sempre devemos obedecer às autoridades, matarei pessoas inocentes quando ordenado por um tirano? Em tal caso, e outros similares, atenderemos ao mandamento exposto em Atos 5:29, onde se diz que importa mais obedecer a Deus que aos homens. Desse modo, toda vez que uma ordenação humana, proceda de quem quer que seja, atentar contra a vontade divina, esta prevalecerá.

            Nos demais casos em que não há claro, manifesto e notório conflito entre o querer do homem e o querer de Deus, reconheçamos que somos propensos, mesmo assim, a transgredir as autoridades. De fato, ao sabor de uma idolatria desenfreada por nós mesmos, em nome de um suposto bem-estar e felicidade, questionamos tudo o que obstaculiza os nossos anseios. Imersos em um sistema que, de um modo bastante curioso, nos instiga a todo momento a ir além, a maior parte de nós – senão todos – termina por sucumbir e tomar parte em meio a tantos deleites para a carne.

            Somos predispostos à anarquia? É difícil falar sobre, mas certamente não temos a inclinação de nos submetermos a qualquer autoridade nem tampouco de promover a união com o outro. Sendo inimigos da cruz de Cristo, amplificando os desejos da carne e fazendo ouvidos moucos à voz interior do Espírito, o deus destes tais é o próprio ventre, pelo que estão destinados à perdição, conforme Filipenses 3:19.

            É possível mudar o curso dos acontecimentos? Creio que não, e o direi por quê. Desde a primeira vinda do Senhor Jesus, com a recusa por parte de muitos em não reconhecê-lo como o Filho de Deus, aquele por meio de quem, e para quem, todas as coisas foram criadas, o mundo entrou numa espiral sem volta de degradação dos valores morais e de insubmissão ao Criador. Sei como será o fim, pois desvelado está no livro de Apocalipse, embora nos estejam ocultos ou cifrados grande parte dos eventos intermediários que conduzirão à foz. Quando temos ciência de tudo isto, e que os males, que tanto se afiguram bem para as pessoas, nos tiram as forças pela sua inevitabilidade, apossa-se de nós o mesmo sentimento que tomou Jesus ao chorar por Jerusalém pela destruição que dentro de pouco havia de padecer (Lucas 19:41-44).

            Conquanto seja inevitável, na condição de sal e luz do mundo não podemos desanimar a fazer a diferença, ainda que sejamos apenas uma rouca voz a clamar no deserto. É isso que confere sentido à vida que levamos enquanto cá estamos, em um mundo que jaz no Maligno (1 João 5:19); é esta a verdadeira religião: Ajudar os necessitados e nos guardar das impurezas deste século (Tiago 1:27). Ocupados fazendo isso, aguardamos a volta do Senhor em glória e poder.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Princípios de Eletricidade - Mural de Apresentações

Propagação do Som - Mural de Apresentações

Sequência didática conduzida pela metodologia ABP